O final do ano chegou e ser o anfitrião para a ceia de Natal é uma escolha nobre! Além de ser a oportunidade perfeita para montar uma linda mesa posta como um gesto de afeto, acolhimento e que também não deixa de ser… huum, sinceramente?! Um tanto estressante e cansativo!
Receber é sempre bom (para quem gosta, é claro!), mas às vezes, o estresse e o cansaço superam os bons momentos em família/amigos até para o anfitrião mais apaixonado.
E se engana quem pensa que não acontece com os especialistas da área. Doce ilusão que também existiu para mim até o Natal de 2020, quando decidi ser a anfitriã dessa celebração pela primeira vez. Eu estava muito animada e já tinha tudo planejado: número de convidados, decoração da mesa, louças, menu, plano de mesa, presentes, tipo de serviço, bebidas…
A receita parecia perfeita: planejamento + vontade de transformar aquela noite em um momento sensível e acolhedor com convidados que não se conheciam entre si, mas eram muito especiais para mim (e eu via um forte potencial de afinidade entre eles também – regra número 1 para receber bem).
Estava especialmente animada porque receberia, além da minha família, amigos de fora do Brasil que não tinham a cultura do Natal presente em seus países.
“Convidado X senta aqui porque fala inglês e pode ajudar a traduzir o que não eles não entenderem. Convidado Y senta ali porque está desanimado com a vida e o convidado Z é um ótimo animador de ambiente. Vegetarianos? Alguma alergia? Grávidas? Todos bebem álcool? As sobremesas são equilibradas o suficiente para agradar a todos os paladares? Calma, vai dar tudo certo!”.
Todas essas perguntas, que podem parecer detalhes chatos para quem não gosta de receber, fazem parte de um dos momentos mais legais para mim, e que não à toa é também um ditado popular: “o melhor da festa é esperar por ela” (e para o anfitrião, planejá-la).
Será mesmo?!
Antes de responder, preciso novamente voltar para a noite de Natal daquele ano, em que eu, com a minha mania de resolver todo e cada detalhe sozinha, me envolvi tanto no planejamento e execução, que nos primeiros minutos da festa em si, ao invés de desfrutar, já estava exausta! Isso sem falar na ansiedade de preparar tudo, que tirou até mesmo o meu apetite e, diante de tantas delícias, não comi mais do que o suficiente para acompanhar cada convidado.
No final da noite, antes de descansar, uma reflexão surgiu: “ok, em partes, a missão foi cumprida. Todos amaram, curtiram, se sentiram bem-vindos. Mas teve sim, uma única pessoa que não aproveitou: eu! Ah, e possivelmente meu marido que, diante do meu estresse, deve ter sentido que estava pisando em ovos em cada interação comigo 😅.”
Na semana seguinte, percebi que precisava adaptar a minha maneira de receber porque, na verdade, para mim, o melhor da festa não deveria ser planejá-la, e sim, desfrutá-la junto às pessoas queridas para quem preparei tudo.
Me lembro, inclusive, que senti um grande alívio ao relembrar o trecho de um dos meus livros preferidos de etiqueta, escrito em 1922, que apresentava “os papéis da anfitriã”. Basicamente, a anfitriã precisava fazer a lista de convidados, elaborar o plano de mesa, escolher a decoração, se produzir e estar disposta para de fato receber bem no dia da festa.
Nossa cultura multitarefas realmente às vezes nos leva à loucura e incita o estresse até mesmo em momentos tão doces quanto as celebrações de final de ano.
É claro que a alta sociedade de Nova York, em 1922 quando o livro foi escrito, tinha praticamente uma equipe multidisciplinar em casa. O que facilitava e muito a vida da anfitriã.
Mas tenho fé, e um otimismo característico de finais de ano, que podemos encontrar um meio termo entre o estilo de vida da época e o de 2022.
Talvez o primeiro passo seja entender que o carinho de receber seus convidados com alegria e disposição, vale mais do que ser multitarefas. É claro que uma linda mesa posta, preparada com amor, tem um impacto imensurável. Mas o que de fato determina a percepção de ser bem recebido do convidado, mais do que “quem fez o que”, é a energia que o anfitrião coloca em cada atividade que escolhe executar.
Eu já aceitei, por exemplo, que sou expert e amo preparar a mesa posta, decorar, escolher a louça, pensar no plano de lugares, e escolher o menu – mas não em preparar o menu. Isso deixo para outro profissional.
Assim, eu, apaixonada por mesa posta, coloco amor e cuidado na montagem da mesa, permito que outra pessoa coloque amor e cuidado na cozinha e ainda guardo um pouco de energia para a parte mais gostosa de uma festa: desfrutá-la!
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Texto Letícia de Mello e Silva – ETIQUETAMENTE CORRETO, parceira do Concierge Bem Bacana.